Nunca tinha me ocorrido rimar amor com arroz, até ver os dois substantivos tão bem combinados em um texto que encontrei navegando nas redes sociais. Na hora, além de me dar conta de tantas rimas ricas que preciso aprender nos poemas que ainda não li, também me lembrei de duas situações em que o amor se manifestou, literalmente, em forma de arroz.
Uma tem a ver com arroz doce, como aprendi a chamar junto com as primeiras palavras, e que me parece muito mais saboroso do que arroz de leite, embora a receita seja a mesma. Minha mãe o oferecia na quantidade, temperatura e hora exatas, fatores de uma soma que, além de recuperar a energia, também servia para confortar as papilas gustativas e o estômago com um calor redondo. É difícil explicar como é um calor redondo, mas tenho certeza que muitos de vocêsrecordarão de momentos em que o sentiram (contem nos comentários!). E, independentemente se quente, frio ou gelado, cada vez que como arroz doce hoje, é o mesmo aconchego que me reintegra em corpo e memória.
Em relação ao arroz de todo dia, nunca consegui comê-lo da forma tradicional, junto com o feijão. Me parece que os sabores de cada um, tão característicos, se perdem quando misturados e, por isso, sempre reservei o final do almoço para degustar o arroz da maneira como meu paladar recomenda. Depois do feijão comido de colher, em uma cumbuca, e a carne e a salada no prato raso, sirvo-me três colheradas de arroz. Além de saciar a fome que resta, me regalo com uma experiência estética que sempre me dá vontade de contar quantos grãos tem ali – a mesma vontade de quando olho para o céu estrelado no campo, sabem?
Algumas vezes gosto de colocar por cima daquela branquidão um pouco de adobo, um tempero seco, uruguaio, feito de orégano, açafrão, alho e pimenta preta, e é nesse ponto que amor volta a rimar com arroz: um dia vi que meus filhos não apenas repetiam o ritual das três colheradas como degustavam esse arroz especial com a mesma satisfação que devem ter visto estampada no meu rosto.
Precisei de um poema para lembrar desses momentos que, no dia a dia, parecem insignificantes. O óbvio é o que menos enxergamos.